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Diferente de quem? Diferenças, interseccionalidade e diversidade

Todas as pessoas são diferentes umas das outras, mas equivalentes porque são únicas

Artigos - temas atuais dos direitos humanos

Racismo no Brasil: causas, raízes estruturais e alternativas para a mudança

Erradicar a violência racial é algo complexo porque ela está implícita em atos que podem parecer sutis

O fenômeno do patriarcado e a violência contra a mulher no Brasil

Negar as emoções e a importância da vida interior é uma maneira pela qual o patriarcado isola as pessoas e garante sua continuidade

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Autoria: Gentopia - www.gentopia.org

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Diferente de quem? Diferenças, interseccionalidade e diversidade

Todas as pessoas são diferentes umas das outras, mas equivalentes porque são únicas

Os Ticunas são o maior grupo indígena da Amazônia brasileira, mas também ocupam territórios no Peru e na Colômbia. Os povos dessa cultura habitam a bacia entre o Rio Amazonas e o Rio Putumayo desde antes de haver fronteiras entre esses países. O nome ticuna é derivado do termo taco-una, que na língua tupi significa "pintado de preto", em referência ao costume do povo Ticuna de se pintar usando o sumo do fruto jenipapo.


Os ticunas se autodenominam Düun, que em sua própria língua significa pessoa. Como revela esse gentílico, eles não percebem nenhuma diferença entre sua vida cotidiana e a das demais pessoas (pelo menos, não o suficiente para criarem uma nova palavra que os identifique). No entanto, para pessoas externas a esse grupo indígena, a lista de diferenças é grande e inclui suas tradições, religião, idioma, métodos de produção de alimentos e tipos de família. De acordo com várias ONGs que têm trabalhado com as comunidades ticunas, sabe-se que existem diferenças significativas no acesso à educação e à saúde que os deixam em desvantagem em relação a outros indivíduos.


Todas as pessoas são diferentes umas das outras, mas equivalentes porque são únicas. Não existem diferenças tão contundentes a ponto de ser necessário criar uma nova categoria para descrever pessoas. Também não é necessário que um grupo de pessoas seja numeroso para se destacar a partir de uma característica que lhe confira identidade. As categorias que nos descrevem mudam e se adaptam de acordo com o que nos é útil e conveniente. O que permanece é nos reconhecermos como iguais em nossas diferenças.


A força da humanidade está em sua diversidade. Cada pessoa busca desenvolver e adquirir conhecimento aproveitando os recursos e possibilidades de que dispõe. De fato, existe um marco legal internacional que reconhece o valor de nossa diversidade: a Declaração de Princípios de Cooperação Cultural Internacional da ONU. Esse documento estabelece que todas as pessoas têm o direito e o dever de desenvolverem sua própria cultura, porque na riqueza de variedade e diversidade e a partir das influências recíprocas que exercem umas sobre as outras, todas as culturas fazem parte do patrimônio comum pertencente à humanidade.


No entanto, em muitas partes do mundo ainda se luta pela inclusão plena de pessoas. A maioria dos conflitos contemporâneos se sustenta por discursos discriminatórios, baseados em diferenças artificiais, que desaparecem assim que o quadro de referência é alterado. Nem nacionalidade, religião, preferência política ou orientação sexual justificam violência, discriminação ou desigualdade entre os indivíduos.


Algumas das categorias que atualmente mais geraram discriminação são: a diversidade sexual, que descreve as diferentes maneiras pelas quais as pessoas adotam,em suas identidades, as diversas formas de expressar gênero e se relacionar afetivamente; a diversidade linguística, que descreve as diferentes formas como concebemos o mundo em função da linguagem e do idioma; a diversidade funcional, que considera as diferentes capacidades motoras e intelectuais dos indivíduos; a diversidade genética, que é a variedade de características que as pessoas podem ter em função de seu DNA.


A discriminação aparece porque as identidades se formam a partir do contraste. Ou seja, as categorias com que as pessoas descrevem a si próprias estão relacionadas, por oposição, ao que elas não são. Homem não é mulher, heterossexual não é homossexual e alguém nascido no Brasil não nasceu na Argentina. Para compreender algumas identidades, sem menosprezar as dos demais, é útil pensar no conceito de interseccionalidade.


A interseccionalidade é uma ferramenta analítica utilizada para compreender que gênero se cruza com outras categorias de diferenciação social as quais produzem experiências de vida únicas. Todos gozamos de privilégios e sofremos opressões, a depender dos grupos a que pertencemos: os de nascimento, os grupos culturais e os que escolhemos livremente. O reconhecimento mútuo de que nossas diferenças nos tornam únicos gera empatia.O conceito de interseccionalidade foi introduzido pela advogada norteamericana e defensora dos direitos civis Kimberlé Crenshaw. Ela argumenta que o racismo não tem os mesmos efeitos nos homens negros que nas mulheres negras. No Brasil, várias ativistas e intelectuais, como Thereza Santos, Lélia Gonzalez, Maria Beatriz do Nascimento, Luiza Bairros, Jurema Werneck e Sueli Carneiro, mencionam a tríade de opressões “raça-classe-gênero” para descrever as diferentes experiências na vida das mulheres brasileiras historicamente oprimidas, mas em graus diferenciados.


A interseccionalidade reconhece as diferenças entre as pessoas e analisa como tal diversidade gera divisões sociais. Embora as fronteiras entre as categorias sejam simbólicas, as experiências de vida são reais e se contrapõem a partir da rejeição/aceitação da diversidade. Não se sofre da mesma forma a opressão contra as mulheres quando se é de classe alta ou de pele clara. Tampouco experimenta o mesmo Brasil aquele que nasce em São Paulo e o que nasce na região dos Ticunas.


Embora a interseccionalidade reconheça todas as experiências de vida como válidas e únicas, esse viés analítico permanece crítico às causas da dominação de alguns grupos sobre outros. Reconhecer a discriminação por classe, gênero e raça/etnia implica apontar o sistema de subordinação colonizador, capitalista, patriarcal e supremacista branco que a sustenta.Muitas das categorias que nos dão identidade não são escolhidas, mas podemos, sim, escolher a atitude que tomamos ao reconhecer essas diferenças.


Na Arte de Viver, queremos manter qualquer tipo de violência fora dos âmbitos de nossas práticas e locais de convivência. Para manter nossos espaços inclusivos, temos um protocolo que busca garantir o cumprimento do nosso Código de Valores e Conduta. Se tiver algo a relatar com relação a algum fato ocorrido no âmbito de nossas atividades, escreva para etica@artedeviver.org.br .


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O ator norte-americano Michael B. Jordan é conhecido por seu papel como vilão no filme Pantera Negra e como Donnie, o boxeador que estrela os filmes Creed. Curiosamente, sua imagem apareceu na lista de pessoas procuradas pela Polícia Civil do Ceará, suspeitas de participar de um tiroteio em Fortaleza.


Uma das explicações para esse evento é que o banco de dados de reconhecimento facial do Ministério da Justiça e Segurança Pública no Brasil não possui uma grande diversidade de rostos de pessoas negras. A polícia apresentou a imagem do ator americano a testemunhas do ato violento em Fortaleza e algumas pessoas (talvez inconscientemente, ao fazer relação com os personagens interpretados pelo ator) afirmaram tê-lo visto participar do ocorrido.


A fama e o prestígio de Michal B. Jordan impediram que o mal-entendido afetasse permanentemente sua vida. No entanto, este não é um caso isolado: milhares de afrodescendentes são estereotipados e sofrem preconceito, inclusive por parte das forças policiais. Na última década, 75% das pessoas mortas pela polícia no Brasil eram afrodescendentes. Destaca-se que 65% da população cearense é de afrodescendentes; este é um caso raro em que as instituições discriminam a maioria da população.


A violência e a discriminação contra os afrodescendentes é um processo social que não pode ser separado da história. Tem suas raízes no passado colonial e no comércio desumano de pessoas escravizadas nascidas na África. Durante o processo de colonização, cerca de 4 milhões de escravizados chegaram ao Brasil, sete vezes mais do que nos Estados Unidos. Vale ressaltar que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão nas Américas e atualmente é o segundo país com a maior população afrodescendente do mundo.


A injustiça causada pela escravidão teve de ser justificada ideologicamente e assim se criou uma narrativa de discriminação racial, pela qual os afrodescendentes eram considerados inferiores. Essas crenças, que obviamente se provaram falsas, são conhecidas como racismo científico e, na época, eram apoiadas pela Igreja e pelo Estado. A abolição da escravatura no Brasil (em 1888) limitou o trabalho forçado, mas não mudou as crenças que o justificavam. Durante a década de 1930, por exemplo, a imigração de europeus (italianos, espanhóis e portugueses) foi promovida para "embranquecer" a população e, assim, supostamente se garantir um futuro melhor para a nação.


Após a abolição da escravatura, as condições de vida dos afrodescendentes não foram equalizadas em relação às do restante da população. Atualmente, quase 150 anos depois da abolição, estima-se que negros, negras e afrodescendentes recebam 25% menos em remuneração ao realizarem o mesmo trabalho que pessoas brancas.


O acesso diferenciado aos serviços públicos por gerações também estabeleceu diferentes lacunas de desenvolvimento. No final do século passado, os afrodescendentes no Brasil representavam 45% da população, 64% das pessoas em situação de pobreza e 69% da população em situação de indigência. Até 2010, uma criança afrodescendente tinha 2 vezes mais chances de morrer do que uma criança branca devido ao acesso limitado a serviços hospitalares. Atualmente, o percentual de afrodescendentes que chega ao ensino superior é de 10,6%, enquanto o percentual de brancos e asiáticos é 2,5 vezes maior (25,6%).


Erradicar a violência racial no Brasil é algo complexo porque ela está implícita em atos que podem parecer sutis. Um dos exemplos seria a “branquitude” como um ideal estético e social que valoriza a cor da pele, a fisionomia e o tipo de cabelo como símbolos de status social, perpetuando juízos de valor de superioridade da raça branca. Sob esse prisma, o conhecimento, a cultura e as práticas de qualquer outra tradição cultural que não a anglo-saxônica seriam considerados inferiores. A hegemonia desse tipo de pensamento se sustenta na desvalorização sistemática do negro e do indígena, ao mesmo tempo em que preserva privilégios para pessoas de raça branca.


Em ambientes sociais dominados pela “branquitude”, o sucesso social e profissional é mais difícil para pessoas que se afastam do padrão de fisionomia europeu. A luta pela igualdade racial no Brasil se desdobra em cada um dos espaços sociais: local de trabalho, escola e ambiente comunitário deveriam estabelecer limites para comportamentos tolerados. Ninguém deveria estar alheio a essa busca por maior igualdade; a indiferença perpetua a discriminação.


Para identificar os efeitos desse tipo de violência, Francisco Antero e Luh de Souza propõem o chamado “teste do pescoço”, que consiste em girar o pescoço para observar ao redor nos diferentes locais em que estejamos. Quando você vira o pescoço em escolas particulares, por exemplo, quantas pessoas de ascendência africana você vê? Virando o pescoço em grandes bancos, quantos especialistas em investimento afrodescendentes você vê? Virando o pescoço em um shopping no Brasil, quantos manequins negros representam a metade da população brasileira, que é de afrodescendente? Políticas públicas que promovam a educação e a inserção no mercado de trabalho dos afrodescendentes, sugerem Antero e De Souza, serão meios para se garantir um futuro em que não haja tantas discrepâncias ao realizarmos o teste do pescoço.


Nos últimos anos, o Estado brasileiro implementou diversas ações no sentido de combater a discriminação e o racismo. Foram, por exemplo, promovidas políticas de ação afirmativa, com a criação de cotas raciais para ingresso em universidades públicas e cargos da administração pública. Também foram criadas instâncias para recebimento de denúncias de atos discriminatórios, como a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - Seppir. No entanto, essas mudanças institucionais não atacam as causas do problema, que residem nos estereótipos e preconceitos que justificam o racismo.


O racismo pode ser uma experiência que se vive na solidão, por vezes mantido em silêncio. A miscigenação criou alguns mitos raciais no Brasil, como a ideia de uma democracia racial, fazendo com que muitos afrodescendentes ignorem sua herança cultural e, portanto, tenham poucas ferramentas para se unir e lutar por seus direitos. Alguns espaços para conhecer mais sobre a cultura afro-brasileira e suas causas são o Instituto Biko da Bahia, o coletivo de mulheres Ilú Obá de Min ou o coletivo cultural Olodum. Esses movimentos se popularizaram nas redes sociais ao promover causas sociais, como o respeito aos direitos humanos e o combate à discriminação.


A democracia racial a que aspira o Brasil não pode ser compreendida sem o reconhecimento de que as condições históricas e atuais são diferentes a depender do tom de pele das pessoas. Para mudar essa situação, é importante apontar a discriminação em todas os espaços e impedir essa violência tanto quanto possível. Na Arte de Viver, temos um canal de escuta pelo qual podemos receber relatos relacionados a discriminação, racismo e outros tipos de violência ocorridos no âmbito de nossas atividades: etica@artedeviver.org.br.


Referências:


Saldaña Pereira Rosângela, Rambla Xavier, Desigualdad racial en Brasil, la realidad desmiente el mito, Revista mexicana de sociología, México, 2007, disponible en https://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0188-25032007000300001


Pineda G. Esther, Las heridas del racismo: Efectos psicosociales de la discriminación racial en las personas afrodescendientes en América Latina, Revista Red de Estudios Sociales, Venezuela, 2019, dispoi¿nible en/https://www.aacademica.org/estherpinedag/19.pdfS/A, La desigualdad racial que persiste en Brazil, BID, 2015, disponible en https://blogs.iadb.org/igualdad/es/brasil-el-pais-de-la-igualdad-racial-hagamos-el-test-del-cuello/


Libardi Manuela, El racismo también mata en Brasil, Nueva sociedad, 2020, disponible en https://nuso.org/articulo/el-racismo-tambien-mata-en-brasil/Boaventura de Soussa Santos, Para descolonizar occidente Mas allá del pensamiento abismal, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Argentina, 2010.


Lemos Igreja Rebecca, Combate al racismo y la discriminación racial en Brasil: legislación y acción constitucional, México, 2016, disponible en https://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1607-050X2016000200032


Edward Telles, Discriminación racial y mestizaje. ONU., disponible en https://www.un.org/pt/node/53192Rebeca Lemos, Combate al racismo y la discriminación racial en Brasil: legislación y acción institucional, Brasil, 2016, disponible en https://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1607-050X2016000200032


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Racismo no Brasil: causas, raízes estruturais e alternativas para a mudança

Erradicar a violência racial é algo complexo porque ela está implícita em atos que podem parecer sutis

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A América Latina é considerada a região mais violenta do mundo e isso afeta particularmente mulheres e meninas.


Entre 2019 e 2021, no Brasil, quase 4 mil mulheres foram vítimas de feminicídio, entendido como “o assassinato de mulheres por homens motivado por ódio, desprezo, prazer ou sentimento de posse em relação às mulheres”, segundo a escritora Diana Russell. O principal espaço onde essas ocorrências se perpetuam é o lar.


A Rede de Observatórios de Segurança documentou que 58% dos feminicídios ou tentativas de feminicídio foram cometidos pelos parceiros ou ex-parceiros das vítimas. É o caso de Maria da Penha, que sobreviveu a duas tentativas de feminicídio por parte do ex-marido, sendo referência para a criação da Lei 11.340, que reconhece o direito de todas as mulheres a viver uma vida sem violência e considera esse tipo de agressão como um ataque aos direitos das mulheres.


As causas desse fenômeno preocupante são muitas, como a grande disponibilidade de armas, a fragilidade política, a desigualdade econômica, a corrupção e a misoginia. Soma-se a essas causas o sistema de ideias e crenças que sustenta o machismo, também conhecido como patriarcado, que reconhece a autoridade com base na capacidade de exercer a violência. De acordo com a acadêmica e escritora Bell Hooks, o amor entre as pessoas é um vínculo ainda mais forte que a violência para se criar relacionamentos.


O patriarcado promove a supremacia dos homens sobre as mulheres e o domínio do homem adulto sobre os jovens com base na falsa ideia de que os fortes devem sempre dominar os mais fracos. Segundo a escritora e educadora Kate Millet, o patriarcado pode ser considerado uma instituição política universal que gera e perpetua a violência. E é um conceito dinâmico, pois suas formas se adaptam para preservar os privilégios dos homens e alcançar a subordinação das mulheres, conforme o momento histórico.


Segundo o patriarcado, toda interação humana deve ser clara e inflexível quanto a quem manda e quem obedece, permitindo que os atos fora da "norma" sejam reprimidos com violência. Dessa forma, sentir empatia, generosidade, solidariedade, compaixão ou qualquer emoção que gere vínculos entre as pessoas pode contrariar os mandatos do patriarcado. Um exemplo disso é que as relações hierárquicas, reconhecidas pela lógica patriarcal, ignoram a amizade sincera, a admiração por um mentor ou o amor altruísta nas relações. Mesmo o desenvolvimento espiritual pode também ser sancionado pelo patriarcado porque desafia as hierarquias existentes.


As crenças patriarcais afetam as mulheres ao mantê-las em situação de opressão, mas também os homens, ao punir por vezes suas experiências emocionais que não estejam relacionadas à raiva ou à violência. Negar as emoções e a importância da vida interior é uma maneira pela qual o patriarcado isola as pessoas e garante sua continuidade.


A violência de gênero não se refere apenas aos feminicídios, mas a qualquer ato ou omissão que vise lesar a integridade de uma pessoa por meio do abuso de poder para dobrar sua vontade, e atinge principalmente mulheres e meninas. Essa violência é classificada em vários tipos de acordo com o impacto nas diferentes áreas da vida da pessoa que é seu alvo; os tipos de violência não são mutuamente excludentes, pelo contrário. É possível que sejam combinados no mesmo caso.


A violência contra a mulher pode ser psicológica, quando se destina a causar danos emocionais, como manipulação, intimidação ou isolamento; física, quando gera dano ou lesão ao corpo da pessoa que recebe essa violência, como empurrões, tapas e outros tipos de agressão.


Também pode ser sexual, entendido como qualquer atividade ou contato físico que ocorra sem consentimento, sendo o assédio um exemplo disso. A violência econômica ocorre quando o acesso a recursos econômicos é dificultado ou restringido, quando, por exemplo, as mulheres são proibidas de trabalhar ou frequentar a escola.


Da mesma forma, a violência de gênero pode ser institucional quando o Estado permite o acesso desigual ao usufruto dos direitos humanos. Além disso, há a violência simbólica que se vale de construções culturais para valorizar de maneira diferente os diversos grupos da população, a partir da normalização de papéis sociais, estereótipos e símbolos de status. Um exemplo da violência simbólica é o fato de, no Brasil, um homem ganhar até 20% a mais do que uma mulher que ocupa o mesmo cargo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE).


A violência de gênero existe porque vivemos em uma sociedade alicerçada em fundamentos patriarcais que associam a identidade dos homens ao poder, ao controle, ao valor, à razão, à posse de conhecimento, ao domínio da esfera pública e à independência individual. Assim, as mulheres que buscam acesso a espaços tradicionalmente ocupados por homens podem enfrentar uma desvantagem que não se baseia nos fatos, mas que é, na verdade, resultado de preconceito.


Estamos cientes de que a violência contra a mulher é um problema de múltiplas causas, sem uma solução única e que requer uma ação coordenada de vários setores para erradicá-la e preveni-la. No entanto, estas são algumas sugestões que podemos adotar nesse sentido:Identificar fatores de risco para a perpetuação da violência. Identifique, por exemplo, os “alertas vermelhos” nos relacionamentos afetivos: quando você sente que alguém a está obrigando a fazer algo que não quer, pela força ou usando de poder, é possível que esse comportamento seja baseado em concepções patriarcais. Lembre-se que você pode sempre pedir ajuda.


Questionar preconceitos e estereótipos. Acreditar, por exemplo, que os homens não devem chorar, que só as mulheres podem usar rosa e que é normal haver diferença salarial entre homens e mulheres que executam o mesmo trabalho. A transformação social pode começar com uma simples pergunta.


Influenciar os ambientes próximos, como sua família, para promover vínculos de relacionamento mais saudáveis. Você pode conversar em seus círculos de confiança sobre fatos cotidianos que levam uma pessoa a agir de determinada maneira apenas por causa de seu gênero.


O que aconteceria se os homens da família fossem responsáveis pelas tarefas domésticas?


É verdade que as mulheres dirigem mal e só os homens dirigem bem?


Usar sua voz caso presencie situações de violência. Não seja cúmplice em situações de violência e interceda por quem sofre injustiça, principalmente se for mulher. Você pode procurar por iniciativas que seu local de trabalho ou escola promovam para prevenir ou corrigir atos de violência de gênero. Pergunte se há um canal para escuta e denúncias. Se não sabe como começar, compartilhe este artigo com seu grupo próximo de amigos ou familiares.


Na Arte de Viver Brasil, queremos manter qualquer tipo de violência fora de todas as nossas práticas e espaços de convivência. Podemos ser acionados pelo e-mail etica@artedeviver.org.br



Agora que você sabe um pouco mais sobre o assunto, o que fará para prevenir e erradicar a violência contra a mulher?



Fontes de consulta:


Millet, K., (2019). Política sexual. Madrid: Cátedra.Hooks, B., (2022). Todo sobre el amor. México: Paidós.IGBE, Brecha salarial, (2018), Brasil.


Ruiz, C. (2019). Las mujeres que luchan se encuentran. Colombia: Grijalbo.


Fernández C. (2013). Sobre el concepto de patriarcado. España, Universidad de Zaragoza.


Debert G., Brocksom S., (2015), La Violencia de Género y la administración de la justicia en Brasil: el caso de Sao Paulo. Brasil, Journal of feminist, Gender and Women studies.


Romero. R., (2019) In Memoriam: Kate Millett, Un hito clave en la tradición feminista. Revista Crítica de Ciencias Sociales.


Carreño. A., (S/F). El patriarcado y sus mecanismos de reproducción en Kate Millet. Notas para comprender la sociedad patriarcal


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O fenômeno do patriarcado e a violência contra a mulher no Brasil

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A Arte de Viver é um princípio, uma filosofia sobre viver a vida ao seu máximo potencial. É mais um movimento que uma organização. Seus valores fundamentais são encontrar a paz interior e unir as pessoas em nossa sociedade – de diferentes culturas, tradições, religiões, nacionalidades... E também lembrar a todos nós que temos apenas um objetivo: apoiar a vida em todos os lugares.”

Sri Sri Ravi Shankar – Líder humanitário fundador da Arte de Viver

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