Os Ticunas são o maior grupo indígena da Amazônia brasileira, mas também ocupam territórios no Peru e na Colômbia. Os povos dessa cultura habitam a bacia entre o Rio Amazonas e o Rio Putumayo desde antes de haver fronteiras entre esses países. O nome ticuna é derivado do termo taco-una, que na língua tupi significa "pintado de preto", em referência ao costume do povo Ticuna de se pintar usando o sumo do fruto jenipapo.
Os ticunas se autodenominam Düun, que em sua própria língua significa pessoa. Como revela esse gentílico, eles não percebem nenhuma diferença entre sua vida cotidiana e a das demais pessoas (pelo menos, não o suficiente para criarem uma nova palavra que os identifique). No entanto, para pessoas externas a esse grupo indígena, a lista de diferenças é grande e inclui suas tradições, religião, idioma, métodos de produção de alimentos e tipos de família. De acordo com várias ONGs que têm trabalhado com as comunidades ticunas, sabe-se que existem diferenças significativas no acesso à educação e à saúde que os deixam em desvantagem em relação a outros indivíduos.
Todas as pessoas são diferentes umas das outras, mas equivalentes porque são únicas. Não existem diferenças tão contundentes a ponto de ser necessário criar uma nova categoria para descrever pessoas. Também não é necessário que um grupo de pessoas seja numeroso para se destacar a partir de uma característica que lhe confira identidade. As categorias que nos descrevem mudam e se adaptam de acordo com o que nos é útil e conveniente. O que permanece é nos reconhecermos como iguais em nossas diferenças.
A força da humanidade está em sua diversidade. Cada pessoa busca desenvolver e adquirir conhecimento aproveitando os recursos e possibilidades de que dispõe. De fato, existe um marco legal internacional que reconhece o valor de nossa diversidade: a Declaração de Princípios de Cooperação Cultural Internacional da ONU. Esse documento estabelece que todas as pessoas têm o direito e o dever de desenvolverem sua própria cultura, porque na riqueza de variedade e diversidade e a partir das influências recíprocas que exercem umas sobre as outras, todas as culturas fazem parte do patrimônio comum pertencente à humanidade.
No entanto, em muitas partes do mundo ainda se luta pela inclusão plena de pessoas. A maioria dos conflitos contemporâneos se sustenta por discursos discriminatórios, baseados em diferenças artificiais, que desaparecem assim que o quadro de referência é alterado. Nem nacionalidade, religião, preferência política ou orientação sexual justificam violência, discriminação ou desigualdade entre os indivíduos.
Algumas das categorias que atualmente mais geraram discriminação são: a diversidade sexual, que descreve as diferentes maneiras pelas quais as pessoas adotam,em suas identidades, as diversas formas de expressar gênero e se relacionar afetivamente; a diversidade linguística, que descreve as diferentes formas como concebemos o mundo em função da linguagem e do idioma; a diversidade funcional, que considera as diferentes capacidades motoras e intelectuais dos indivíduos; a diversidade genética, que é a variedade de características que as pessoas podem ter em função de seu DNA.
A discriminação aparece porque as identidades se formam a partir do contraste. Ou seja, as categorias com que as pessoas descrevem a si próprias estão relacionadas, por oposição, ao que elas não são. Homem não é mulher, heterossexual não é homossexual e alguém nascido no Brasil não nasceu na Argentina. Para compreender algumas identidades, sem menosprezar as dos demais, é útil pensar no conceito de interseccionalidade.
A interseccionalidade é uma ferramenta analítica utilizada para compreender que gênero se cruza com outras categorias de diferenciação social as quais produzem experiências de vida únicas. Todos gozamos de privilégios e sofremos opressões, a depender dos grupos a que pertencemos: os de nascimento, os grupos culturais e os que escolhemos livremente. O reconhecimento mútuo de que nossas diferenças nos tornam únicos gera empatia.O conceito de interseccionalidade foi introduzido pela advogada norteamericana e defensora dos direitos civis Kimberlé Crenshaw. Ela argumenta que o racismo não tem os mesmos efeitos nos homens negros que nas mulheres negras. No Brasil, várias ativistas e intelectuais, como Thereza Santos, Lélia Gonzalez, Maria Beatriz do Nascimento, Luiza Bairros, Jurema Werneck e Sueli Carneiro, mencionam a tríade de opressões “raça-classe-gênero” para descrever as diferentes experiências na vida das mulheres brasileiras historicamente oprimidas, mas em graus diferenciados.
A interseccionalidade reconhece as diferenças entre as pessoas e analisa como tal diversidade gera divisões sociais. Embora as fronteiras entre as categorias sejam simbólicas, as experiências de vida são reais e se contrapõem a partir da rejeição/aceitação da diversidade. Não se sofre da mesma forma a opressão contra as mulheres quando se é de classe alta ou de pele clara. Tampouco experimenta o mesmo Brasil aquele que nasce em São Paulo e o que nasce na região dos Ticunas.
Embora a interseccionalidade reconheça todas as experiências de vida como válidas e únicas, esse viés analítico permanece crítico às causas da dominação de alguns grupos sobre outros. Reconhecer a discriminação por classe, gênero e raça/etnia implica apontar o sistema de subordinação colonizador, capitalista, patriarcal e supremacista branco que a sustenta.Muitas das categorias que nos dão identidade não são escolhidas, mas podemos, sim, escolher a atitude que tomamos ao reconhecer essas diferenças.
Na Arte de Viver, queremos manter qualquer tipo de violência fora dos âmbitos de nossas práticas e locais de convivência. Para manter nossos espaços inclusivos, temos um protocolo que busca garantir o cumprimento do nosso Código de Valores e Conduta. Se tiver algo a relatar com relação a algum fato ocorrido no âmbito de nossas atividades, escreva para etica@artedeviver.org.br .
Autoria: Gentopia - www.gentopia.org
Os valores humanos não dependem ou emanam de qualquer autoridade externa. Como uma potencialidade infinita dentro de todas as pessoas, os valores humanos já estão presentes em cada ser humano; é necessário apenas revivê-los para que prosperem e cresçam.Há uma estreita relação entre direitos humanos e valores humanos. No entanto, apesar do foco nos direitos humanos durante meados do século passado, havia muito pouca atenção aos valores humanos. Para que os direitos humanos floresçam, os valores humanos devem ser alimentados, assim como as raízes de uma árvore devem ser regadas para que os frutos cresçam.
Sri Sri Ravi Shankar – Líder humanitário fundador da Arte de Viver
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